Saul fia, de László Nemes
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
No prólogo de “Filho de Saul”, o cineasta estreante László Nemes encena aquela que é, desde já, uma das cenas mais pesadas já feitas sobre o Holocausto. É quando Saul, interpretado por Géza Röhrig, conduz centenas de pessoas nuas à câmara de gás. Sem nenhum corte, testemunhamos não apenas o enclausuramento, como também os gritos de desespero e os barulhos provocados pelas batidas nos portões por aqueles judeus que morrerão em segundos.
Além de repetir esse impacto em outras ocasiões, “Filho de Saul” também expõe um comportamento que procedia em campos de concentração. Trata-se da colaboração de judeus no auxílio para eliminar os seus pares como um subterfúgio para prolongar a sobrevivência durante aquele terror. Entre as “tarefas” de Saul, está recolher roupas e pertences de algum valor e empilhar cadáveres para serem incinerados.
Durante esse processo, vê um garoto dando os seus últimos suspiros e o reconhece como o seu próprio filho. Vem assim a obstinação em ocultar o seu corpo e localizar entre outros judeus um rabino que possa sepultá-lo com alguma dignidade. Uma busca que irá durar dois dias, exibida em razão 1.37: 1.
Além de uma estética que reproduz a angústia desse confinamento que veio a se tornar um dos maiores crimes da humanidade, “Filho de Saul” se aprisiona no contexto sem que consiga propagar as suas observações para fora dele. Um trabalho primoroso que, ao mesmo tempo, se impede da libertação das amarras do segmento tradicional “filmes sobre o Holocausto”. Fecha-se em si mesmo, sem imaginar a mesma desesperança sobre o que vem a seguir avaliada em outros longas recentes, como “A Espiã” e “Os Falsários”.
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