Um Estranho no Ninho – 1975 (Resenha)
POR PEDRO HENRIQUE
Quando Machado de Assis sabiamente afirmou que “A loucura é uma ilha perdida no oceano da razão”, a tendência é imaginar que o louco é aquele isolado no seu próprio mundo, vivendo sob as suas próprias regras, ou da falta delas. A partir do momento em que o oceano, com ondas descontroladas, violentas, trazendo uma terrível tempestade em conjunto invadem a privacidade da ilha, nos perguntamos onde está a razão e onde está a loucura.
Lançado no ano de 1976, Um estranho no ninho, dirigido por Milos Forman, trás esta discussão com extrema veracidade, abordando assim o questionamento sincero sobre quem é realmente o louco. O longa se inicia com o prisioneiro Randle Patrick McMurphy, interpretado pelo sempre brilhante Jack Nicholson, sendo levado para uma instituição de tratamento para doentes mentais após simular a sua insanidade na cadeia, para que não precisasse trabalhar.
Desde a sua chegada ao local, na forma de uma onda descontrolada, McMurphy mostra-se bastante sarcástico, descontrolado e violento, mas, mesmo assim inicia uma interação com aqueles que estão ali realmente para um tratamento eficaz. A partir destas interações, McMurphy começa a se aproveitar da inocência dos pacientes para incitar as suas próprias “pequenas revoluções” contra as normas rígidas impostas pelos que comandam o local, seja uma discussão por mais cigarros, ou por mais privacidade, mais tempo em seus quartos. A mais interessante dessas interações ocorre com o “Chefe”, um enorme índio que todos consideram surdo e mudo, já que nunca havia falado. A trama te envolve num circulo de loucura tão grande que até quando McMurphy começa a ouvir o Chefe falando, precisa-se analisar se ele realmente está falando, ou se o local já dominou a mente do prisioneiro.
McMurphy mostra-se sempre descontrolado e impulsivo, o que o torna realmente alguém que foge dos padrões daquela instituição, já que todos estavam acostumados com as suas mesmas interações, assim como a mesma rotina. Esta fuga do padrão chama a atenção não só do diretor do local, como também da enfermeira-chefe Ratched (Louise Fletcher), que o enfrenta constantemente, decidida a acabar com maiores problemas causados pelo prisioneiro em avaliação.
A trama se desenvolve a partir do drama imposto à condição dos pacientes, presos nos seus próprios mundos, suas próprias ilhas, mas, ao mesmo tempo, estes personagens mostram-se tão carismáticos e divertidos que contribuem com diversas cenas de alívio cômico. Um estranho no ninho foi premiado com cinco Oscars no ano de 1976, sendo estes os de melhor ator para Jack Nicholson, que sempre agradou nos seus papéis mais afetados e insanos, como os vistos em O iluminado ou como o Coringa no Batman de Tim Burton, melhor atriz para Louise Fletcher, melhor filme, melhor diretor para Milos Forman e melhor roteiro adaptado, coroando assim um longa em que somos convidados a abraçar a loucura, de forma que ela é o padrão, e não o contrário.
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