Amy
Amy, de Asif Kapadia 
Publicada no Brasil pela Editora Globo, a biografia de Amy Winehouse assinada pelo jornalista britânico Chas Newkey-Burden chegou em um momento em que a cantora atravessava um momento conturbado na carreira e na vida privada. Porém, embora a sua pesquisa tenha trazido ao público informações curiosas sobre Amy, havia um excesso de enaltecimento, encarando as transgressões da artista como justificáveis em uma cena musical em que homens as protagonizam sem uma penitência.
Conhecido pela direção do documentário “Senna”, Asif Kapadia faz uma cobertura muito mais interessante e completa sobre a cantora e compositora, quatro anos após a sua morte por intoxicação de álcool. Tece, na realidade, um panorama crítico sobre a fama e o quanto ela atinge negativamente quem não a deseja e o quanto a mídia colabora para aprofundar ainda mais um poço no qual está uma figura pública.
Ao se aproximar dos primeiros anos de Amy, a famosa “levada da breca” dá lugar a uma garota que desde a pré-adolescência apresentava indícios de depressão a partir do divórcio de seus pais. Atingiu a maioridade já chamando a atenção de produtores musicais por sua voz inigualável, preenchendo com energia as próprias composições, que tinham como matéria-prima as frustrações e a paixão por jazz, gênero que apreciava desde pequena ao lado do pai, Mitchell Winehouse, então um taxista e cantor amador.
Tendo “Stronger Than Me” como o seu primeiro single, Amy veio a estourar mesmo em seu segundo álbum, “Back to Black”. Com as divulgações em rádios e programas televisivos, ganhou fãs em todo o mundo e a consagração no meio artístico, recebendo em 2008 cinco prêmios Grammy. Ápice que teve um custo, como a presença 24 horas de paparazzi para registrar a sua intimidade, geralmente ao lado de Blake Fielder-Civil, seu marido na época.
O respeito à memória de Amy Winehouse não está ao negar a sua trajetória errante, documentada em noticiários que exploraram exaustivamente o seu alcoolismo e o vício por drogas pesadas que a levaram a uma transformação física assustadora. Kapadia compreende que ninguém se atira ao abismo a troco de nada e conecta a autodestruição de Amy com as inadequações de um meio com pessoas que deveriam protegê-la ao invés de expô-la.
Não apenas Blake sugou toda a vitalidade de Amy ao inseri-la em um caminho sem volta, mas também o seu pai e agentes, forçando-a a seguir com um cronograma de shows em circunstâncias de maior fragilidade, vindo um histórico de apresentações interrompidas por suas indisposições física e psicológica. Mitchell inclusive autorizou ao Channel 4 as gravações para um projeto televisivo que viria a ser batizado como “My Daughter Amy”, isso em pleno 2010, período em que Amy se isolava para uma nova reabilitação.
Ainda que alguns acontecimentos importantes traziam a esperança de volta por cima, como o dueto com Tony Bennett para “Body & Soul”, o acúmulo de feridas emocionais era insuportável demais para reanimá-la, tornando-a um novo nome para a lista de grandes talentos que partiram aos 27 anos. Kapadia registra a despedida sem a intromissão de escândalos, oferecendo a artista algum conforto após a tormenta. “Amy para sempre”, suspira a eulogia do brasileiro Antonio Pinto.