Gone, Baby, Gone (Resenha)
POR JORDAN SOUZA
já ficou bem claro para mim que os enredos de Dennis Lehane nada mais são do que críticas e reflexões fortíssimas fantasiadas de caso policial. É possível sentir a acidez com que Lehane constrói os diálogos e monta seus personagens, sempre matutando e andando na ponta dos pés na famosa linha invisível entre o certo e o errado.
Em Gone, Baby, Gone (Companhia das Letras, 1998), isso não é diferente. Quando a pequena e introvertidaAmanda McCready desaparece, embaixo do nariz de sua mãe Helene, a cidade toda entra em choque. Os esforços da polícia provam-se inúteis para resolver o caso, obrigando os tios da menina, Lionel e Beatrice, a irem atrás de uma ajuda especial: Patrick Kenzie e Angela Gennaro.
Além dos plot twists e das sequências de perseguições frenéticas, a complexidade também faz parte da identidade literária do autor. Com incontáveis referências à cultura irlandesa, descrições geográficas detalhadas de Boston e um cuidado admirável em amarrar pontas soltas, Lehane sempre deixa a grande revelação para o final.
Auxiliados por agentes da Brigada de Proteção a Crianças, Patrick e Angie têm seus limites testados quando descobrem que o desaparecimento de Amanda é, na verdade, um sequestro assustadoramente planejado. Lehane escreve uma história perturbadora, que cumpre o objetivo de revoltar o leitor. Personagens cruéis e sem escrúpulos nos mostram o tempo todo que o ser humano pode ser uma criatura mais letal do que qualquer animal selvagem.
Entretanto, achei que a trama atingiu o seu ápice cedo demais, obrigando o autor a estender a história por muito mais tempo do que era necessário. Me cansei depois de um determinado período. Muitos nomes, muitas teorias, muitas ruas e muitos lugares, tudo misturado com o turbilhão de emoções e dilemas morais sofridos por Angie e nosso narrador/personagem, Patrick. As incontáveis cenas de ação e tiroteio são extremamente cinematográficas e visuais, mas que aqui soaram um tanto repetitivas. Sabendo queKenzie-Gennaro ainda tem mais livros para protagonizar, é fácil adivinhar que não seriam fatalmente feridos.
Patrick e Angie já se reconhecem como um casal. Desde o primeiro livro, soube que isso aconteceria e temi que o romance atrapalhasse a dinâmica de trabalho. Felizmente, Lehane foi muito astuto ao criar uma parceria/namoro muito interessante e que condiz com a personalidade dos personagens.
O encerramento é duro. Em nenhum momento Lehane se preocupa em dizer “e eles viveram felizes para sempre”, de maneira que seus parágrafos finais são sempre um baque. Um bom livro, digno do autor que o assina. Apesar de não ser o meu favorito da dupla, é um must read para quem gosta do gênero.
Em 2007, Gone, Baby, Gone foi adaptado para o cinema – “Medo da Verdade”, no Brasil. Dirigido por Ben Affleck, o longa adaptou a busca de Kenzie (Casey Affleck) e Gennaro (Michelle Monaghan) pela reprimida Amanda McCready. O filme foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, pelo trabalho de Amy Ryan no papel da desequilibrada mãe de Amanda, Helene McCready.
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